Socialmente, pais e mães são muito valorizados por serem superprotetores. Entendemos que pais superprotetores são cuidadosos e tendemos a discutir mais sobre os efeitos da negligência sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Mas a verdade é que extremos precisam ser olhados com cuidado, seja pela falta ou pelo excesso.
As pesquisas (Gopnik, 2016; Levine, 2015) mostram que a superproteção pode ser prejudicial para as crianças por vários motivos:
- Limitação do desenvolvimento de habilidades: Quando as crianças são superprotegidas, elas têm menos oportunidades de desenvolver habilidades importantes, como autonomia, resiliência, tomada de decisões e resolução de problemas. A falta de experiências desafiadoras e a exposição a situações de risco controlado podem impedir o desenvolvimento saudável dessas habilidades.
- Redução da autoconfiança: A superproteção pode minar a autoconfiança das crianças, pois elas podem se tornar dependentes dos adultos para lidar com desafios e situações do dia a dia. A falta de autonomia pode levar a uma baixa autoestima e insegurança.
- Aumento da ansiedade e do medo: Crianças superprotegidas podem desenvolver ansiedade e medo excessivos, pois não tiveram a oportunidade de aprender a lidar com situações desconhecidas e a desenvolver habilidades de enfrentamento. A superproteção pode transmitir a mensagem de que o mundo é perigoso e incontrolável.
- Prejuízo no desenvolvimento social e emocional: A superproteção pode limitar as interações sociais das crianças, impedindo-as de aprender a se relacionar com os outros, resolver conflitos e desenvolver empatia. Isso pode afetar negativamente seu desenvolvimento emocional e habilidades de comunicação.
- Impacto na independência e autonomia: Crianças superprotegidas podem ter dificuldade em se tornar independentes e autossuficientes, pois não tiveram a oportunidade de assumir responsabilidades e tomar decisões por conta própria. Isso pode afetar sua capacidade de se adaptar a novas situações e desafios na vida adulta.
Em resumo, a superproteção priva as crianças de experiências e é uma prática invalidante, há medida que comunica para o outro que “Eu adulto sei o que é melhor para você e antecipo para te proteger. Você criança/adolescente não sabe o que é bom”. Práticas invalidantes invalidam a experiência do EU, ou seja, “o seu EU não sabe o que é bom” e, sem dúvidas, isso influência o desenvolvimento psicológico dos pequenos.
Em revisão de literatura Gray, Lancy & Bjorklund (2023) sugerem que crianças que desempenham atividades com autonomia e liberdade apresentam maior probabilidade de ter um desenvolvimento psicológico saudável. Eles argumentam que as crianças precisam de oportunidades para explorar o mundo ao seu redor, tomar decisões e assumir riscos calculados para desenvolver habilidades importantes, como resiliência, autoconfiança e autoestima. No entanto, além do controle parental, indicam que as mudanças sociais relacionadas aos perigos de ser criado com brincadeiras de rua e responsabilidades por tarefas de rotina de casa, e educacionais relacionadas aumento da pressão acadêmica e a ênfase na competição e no desempenho, ao longo das décadas têm limitado cada vez mais a independência das crianças, o que pode ter consequências negativas para o seu bem-estar psicológico.
Os autores sugerem que é necessário encontrar um equilíbrio entre a supervisão e o controle dos adultos e a autonomia e liberdade das crianças para promover um desenvolvimento psicológico saudável. Além disso, eles enfatizam a importância de abordar as causas subjacentes do declínio na saúde mental dos jovens, incluindo as mudanças sociais e educacionais, para ajudar a promover um futuro mais saudável para as crianças e adolescentes. Embora não seja a única causa, os autores sugerem que a redução na independência das crianças pode ter contribuído para o aumento da ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos entre os jovens.
Quer contribuir para o bem-estar psicológico dos(das) seus(suas) filhos(as)? Invista na independência e autonomia deles(as).
Referências:
Levine, M. (2015). Developmental psychology today. Routledge.
Gopnik, A. (2016). The gardener and the carpenter: What the new science of child development tells us about the relationship between parents and children. Farrar, Straus and Giroux.
Gray, P., Lancy, D. F., & Bjorklund, D. F. (2023). Children’s independence and mental health: Why children need more freedom and why it matters. Evolutionary Behavioral Sciences.
Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues
CRP 16/2307
Título de pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.