As pesquisas na área associam à solidão ou as conexões sociais restritas a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, infecções, declínio cognitivo, depressão e ansiedade.
Solidão é mais do que simplesmente estar sozinho. É uma sensação de desconexão, de não pertencimento a um grupo social, que pode ter um grande impacto em nossa saúde mental e física. Desde os primórdios da humanidade, fomos programados para viver em sociedade, integrando grupos para nossa proteção e bem-estar. A coesão social, seja na forma de famílias, grupos ou sociedades, é fundamental para nossa felicidade ao longo da vida. Entender e abordar a solidão é essencial para promover o bem-estar emocional e físico.
É fundamental compreender e abordar a solidão em todas as fases da vida, pois ela não escolhe idade: tanto os idosos como os jovens podem sentir seus efeitos. Os mais velhos, muitas vezes, enfrentam a desconexão devido à perda de amigos e familiares. Mas a solidão também afeta os adolescentes, uma fase da vida marcada pelo convívio social e pela construção de relacionamentos. Nesta fase, a solidão pode estar relacionada ao próprio processo de individuação, as mudanças relacionadas a fase da vida e a falta de apoio parental.
A solidão tornou-se uma preocupação de saúde pública devido a uma combinação de fatores. A pandemia de COVID-19 ampliou a necessidade de isolamento social, levando algumas pessoas a se refugiarem em suas casas, o que pode ter se tornado uma zona de conforto difícil de deixar. Além disso, o modo como nossa sociedade está organizada pode contribuir para a solidão, com muitas cidades construídas em ambientes que não promovem a interação social. O uso excessivo de redes sociais, juntamente com questões como austeridade, pobreza e racismo, também pode aumentar os sentimentos de desconexão. O individualismo crescente em detrimento do coletivismo pode elevar ainda mais o risco de solidão. É importante reconhecer e abordar esses fatores para promover uma maior conexão social e combater a solidão em nossas comunidades.
Além da saúde física e mental, existe uma perspectiva que não é tão discutida. você sabia que a restrição nas conexões sociais pode impactar nossa vida profissional? E esse assunto é muito recorrente na clínica. Você já conheceu alguém que estava se sentindo “um peixe fora da água” no trabalho, com a sensação de não pertencimento àquele grupo? Imagine o quanto isso impacta no nosso desempenho, produtividade e resiliência no trabalho.
- Desempenho: A solidão no trabalho pode levar à falta de motivação, concentração reduzida e dificuldade em manter o foco nas tarefas. Isso pode resultar em um desempenho abaixo do esperado e dificuldade em atingir metas e objetivos.
- Produtividade: A solidão pode levar a sentimentos de isolamento e desconexão, o que pode afetar a colaboração e a comunicação com colegas de trabalho. A falta de interação social pode reduzir a eficiência no trabalho e a capacidade de trabalhar em equipe, resultando em uma diminuição da produtividade.
- Resiliência: A solidão crônica no trabalho pode impactar negativamente a resiliência emocional e mental dos indivíduos. A falta de apoio social e interações positivas pode tornar mais difícil lidar com o estresse, os desafios e as pressões do ambiente de trabalho, aumentando o risco de esgotamento e problemas de saúde mental.
Em revisão de literatura, Castilla et al. (2013) identificou que conexões sociais restritas podem sabotar nossa produtividade, comprometer nosso desempenho individual e em equipe, e até minar nosso comprometimento com as tarefas. No entanto, para aqueles que desfrutam de uma forte rede de conexões no ambiente de trabalho, a história é bem diferente: eles conseguem se integrar mais rapidamente em novos empregos, se adaptam com mais facilidade e alcançam melhores resultados, tudo porque podem contar com o apoio e camaradagem de seus colegas. Além disso, as conexões sociais fortalecem nosso senso de propósito e autoconfiança, fornecendo uma valiosa proteção contra o estresse do dia a dia.
Sendo um sentimento relacionado com tantos aspectos da vida humana, entender e abordar a solidão, tanto na esfera pessoal quanto profissional, é essencial para promover uma maior conexão social e combater os efeitos negativos desse fenômeno em nossas vidas e comunidades.
Castilla EJ, Lan GJ, Rissing BA. (2013). Social networks and employment: outcomes (part 2). Sociol Compass. 7(12):1013–1026. doi:10.1111/soc4.12095.
Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues
CRP 16/2307
Título de pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.