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Atire a primeira pedra o terapeuta que nunca atendeu um paciente “descrente” em terapia. Aquele paciente que na primeira sessão de terapia nos dizem: “eu não acredito em terapia”. Prontamente eu respondo: “que bom, a gente não precisa acreditar, eu também não acredito, mas ainda bem que temos dados sobre evidências científicas, pois a Psicologia é uma ciência”. E as vezes é assim que início os meus atendimentos, de forma um pouco combativa, mas com a clareza de que fazemos ciência aplicada. Então trago dados:

Barsaglini et al. (2013) apresentou uma revisão sistemática e crítica de estudos longitudinais que abordavam o impacto da psicoterapia no cérebro publicados até aquela data.

Para garantir a robustez dos dados, os estudos incluídos na revisão deveriam atender aos seguintes critérios de seleção: 1. Examinarem o impacto da psicoterapia na função cerebral em pacientes psiquiátricos usando métodos de neuroimagem funcional que permitiam a análise de regiões específicas. 2. Empregarem um desenho longitudinal no qual os mesmos pacientes foram escaneados antes e depois do tratamento. 3. Relatarem os resultados no nível do grupo, em vez de em um ou mais estudos de caso únicos. 4. Incluírem tratamentos assistidos por computador e tratamentos realizados por um profissional de saúde mental. 5. Focarem em adultos em vez de crianças. 6. Estarem escritos em inglês. Após a aplicação desses critérios de seleção, 42 artigos foram selecionados como relevantes para a revisão.

Após resumir os resultados relatados na literatura para cada transtorno psiquiátrico separadamente (ou seja, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, transtorno depressivo maior unipolar, transtorno de estresse pós-traumático, fobia específica, esquizofrenia), os resultados foram discutidos a partir de três questões de interesse: (a) se as mudanças neurobiológicas que seguem a psicoterapia ocorrem em regiões que mostraram alteração neurofuncional significativa antes do tratamento; (b) se essas mudanças neurobiológicas são semelhantes ou diferentes daquelas observadas após o tratamento farmacológico; e (c) se as mudanças neurobiológicas poderiam ser usadas como um meio objetivo de monitorar o progresso e o resultado da psicoterapia.

Os resultados indicaram que dependendo do transtorno em questão, a psicoterapia resulta em uma normalização de padrões anormais de atividade, a ativação de áreas adicionais que não mostraram ativação alterada antes do tratamento, ou uma combinação dos dois. Além disso, os efeitos da psicoterapia na função cerebral são comparáveis aos da medicação para alguns transtornos. E, por fim, há evidências preliminares de que as mudanças neurobiológicas estão associadas ao progresso e resultado da psicoterapia.

Psicoterapia não é achismo, ela pode levar a mudanças neurobiológicas no cérebro de pacientes com transtornos psiquiátricos, e essas mudanças podem ser monitoradas por meio de técnicas de neuroimagem.

Barsaglini, A., et al. (2013). The effects of psychotherapy on brain function: A systematic and critical review. Prog. Neurobiol. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.pneurobio.2013.10.006

Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues 
CRP 16/2307 
Título de pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.

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