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Textos informativos

Como vai a sua Autoestima?

Os sentimentos não nascem com as pessoas, eles são desenvolvidos durante a vida. Autoestima, autoconfiança, autoimagem, são sentimentos ensinados por nossa comunidade social e verbal. É comum a concepção de que os sentimentos tem uma função causal ou explicativa. Por isso as pessoas tendem a dizer que agiram de certa forma porque tem baixa autoestima, por exemplo. Mas o que explicaria a baixa autoestima? Não é o sentimento que explica o comportamento e nem vice e versa. Ambos são reações que precisam ser entendidas dentro de um contexto antecedente.

AUTOESTIMA
O sentimento de autoestima diz respeito a sensação da pessoa se sentir amada pelo simples fato de existir como pessoa, pelo fato dela pertencer a um grupo, dela ter um sentido sendo quem ela é. Esse sentimento depende de um social para ser aprendido. É a comunidade verbal,principalmente os pais, que vão ensinando a criança sobre a importância da sua existência, sobre o valor das coisas que gosta, das opiniões que têm e de como é. Com um tempo, uma pessoa que foi validada e valorizada em sua existência, aprende a ter gentileza consigo mesma e valorizar quem é, mesmo que nem sempre esteja desempenhando sua melhor versão.

Podemos desenvolver a autoestima dos nossos filhos quando valorizamos e os diferenciam pelos seus gostos. Então, por exemplo, se toda a minha família gosta de praia, mas um dos filhos gosta de piscina, podemos combinar dias de praia e dias de piscina, pois aquele filho específico gosta, ao invés de avisar para ele que ele terá que fazer o que a maioria gosta. Certamente, ele terá dias que precisará ir para a praia, mas planejar os dias de piscina e comunicar a todos que os dias de piscina são importantes porque um dos meninos gosta mais, é valorizar que os gostos podem ser diferentes e possuem valor mesmo assim. Além disso, também desenvolvemos a autoestima deles quando como pais, tentamos compreender e apoiar nossos filhos, que fazem escolhas de vida diferentes das nossas, ou que nos magoam de alguma forma. Quando uma criança ou adolescente consegue se sentir amado, mesmo em desacordo com seus pais, ela se sente amado independente do seu desempenho, independente se fez algo julgado como certo.

Será que essas formas de desenvolver autoestima soam como superproteção? Muito pelo contrário.Quando apostamos na comunicação validante em nossas relações, conseguimos reconhecer a maioria das expressões cognitivas e emocionais da outra pessoa, mas não significa que todos os desejos da outra pessoa serão atendidos, é uma comunicação que vai reconhecer e legitimar o que é importante para todos que estão envolvidos na relação. Já na superproteção, temos comportamentos que estão prontos para satisfazerem os desejos do outro, não deixá-lo “sofrer” (como se isso fosse possível). O comportamento de monitoria constante e constante antecipação das consequências negativas do comportamento da criança ouadolescente acabam favorecendo com que os pais assumam as consequências naturais do comportamento dos filhos. Práticas parentais que envolvem o monitoramento constante são descritas como invasivas. A supervisão invasiva desfavorece o desenvolvimento de sentimento de autoestima e autoconfiança. Isto porque os pais que invadem, acabam não favorecendo a regulação bidirecional da relação na qual os filhos trazem as informações a partir de auto revelação e os pais intervêm de um modo mais ativo caso essas informações sejam ambivalentes, desencontradas ou insuficientes. Tal monitoria precisa de alto grau de confiança parental relacionada à previsibilidade do comportamento de seus filhos, o que não é visto na monitoria invasiva. Mas passa uma mensagem de que “eu, adulto, sei o que é melhor para você, você não sabe escolher”, criando uma sensação de invalidação e necessidade de validação externa.

AUTOCONFIANÇA
Certo ou errado, este é um julgamento que não combina tanto para quem sente autoestima. Quando há autoestima, há também um entendimento de que a vida, por mais perfeita que tentamos vivê-la, não é sobre a perfeição e sim sobre o que é possível com o contexto e as ferramentas que temos. Não é raro encontramos no consultório pessoas que baseiam seus relacionamentos na utilidade, no fazer certo, em busca de amor do outro. Isso nos revela uma confusão entre os sentimentos de autoestima e autoconfiança. Humanamente falando é interessante você saber fazer as coisas, mas precisar fazer “o certo” sempre é uma carga pesada e cansativa a longo prazo.

Vemos recorrentemente no rosto daqueles que são amados por aquilo que fazem o peso de nunca poder parar de fazer e o peso de sempre ter que fazer certo, a fim de que se sintam amados. O fato é que se sentir amado não necessariamente deveria estar relacionado a um fazer bem e quando está, temos uma confusão sobre sentimentos relacionados à autoestima e autoconfiança. O sentimento de autoconfiança é um fator importante para a qualidade e sucesso na vida das crianças e dos adultos. Ele diz respeito a sensação da pessoa em realizar uma tarefa e, ao chegar ao final da tarefa, sentir que foi bem-sucedida na mesma e que tem competência para realizá-la. Este é um sentimento que não depende de um social para ser desenvolvido e sim de habilidade e aprimoramento.

O desenvolvimento de habilidades e a sensação de ser capaz de fazer e desenvolver coisas importantes e relevantes nos ajuda a superar medos, nos possibilita experimentar coisas novas e continuar nosso processo de mudança. Por mais que esse sentimento não precise de um social para se desenvolver, como pais, podemos ajudar nossas crianças a desenvolver sua autoconfiança, criando ambientes seguros que eles possam se comportar com sucesso. Como seria isso?

PONTO 1 – Seja um modelo para o comportamento do seu filho. Crianças aprendem por observação. Esse é um tipo de aprendizagem muito importante que muitas vezes as livra de consequências intensas, tais como se queimar com fogo, tomar um choque, entre outras. O modelo é a base da herança cultural, do aprendizado que é passado “de pai para filho”. É a partir dele que a criança aprende que não se deve colocar as mãos no fogo, pois ele queima. Se você é o tipo de cuidado que segue aquela máxima do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, talvez você terá problemas com o comportamento da sua criança, visto que ela vai ficar mais atenta às consequências do seu fazer do que do seu “mandar”. É fácil verificar como as crianças constantemente imitam seus pais ou cuidadores mais frequentes. Observe-as interagindo em suas brincadeiras ou com seus pares e perceba que muitas de suas ações são semelhantes a das pessoas significativas para elas.

PONTO 2 – Encoraje e promova autonomia. Crie um ambiente no qual a criança possa experimentar o comportamento, sem julgamentos. Ajude seu filho com as ferramentas para conquistar um objetivo. Aquela história que não adianta “dar o peixe e sim ensinar a pescar” é verdadeira aqui.Ensine os passos que promovam o resultado esperado. Não crie expectativas ilusórias comparando sua criança com outras, esteja atento ao repertório comportamental de seu filho. Se eu exijo do meu filho algo que ele não tenha habilidade para fazer, eu não promovo desenvolvimento de autoconfiança.

Muitas pessoas são ensinadas que compreensão e apoio só acontecem quando seus comportamentos e escolhas estão de acordo com o critério dos pais. Pessoas que se comportaram de maneira adequada de acordo com esses critérios, podem não lembrar de conflitos importantes,mas também podem ter passado uma vida inteira com medo de “colocar o pé pra fora dos limitesestabelecidos”. Sentem um vazio afetivo difícil de ser entendido, visto que é uma pessoa que “só faz o certo”, mas nem sempre sente essa reciprocidade na relação. Enfim, essa pessoa acaba não se sentindo amada, são seus comportamentos que são amados e se eles não estão de acordo com oque é estabelecido, os laços ficam frágeis.

AUTOIMAGEM
Além disso, também há uma confusão no senso comum sobre o conceito de autoestima e autoimagem. No entanto, em termos psicológicos, a autoestima diz respeito a sentimentos complexos que se relaciona à capacidade da pessoa de valorizar e admirar a pessoa que ela é. Como vimos, isto implica em uma história de vida que me ensinou a validar e lutar por aquilo que eu gosto e valorizo. Enquanto que o sentimento de autoimagem trata de algo menos complexo que tem a ver com a capacidade de olhar para a imagem que se vê no espelho ou na foto e julgar essa imagem como bonita e legal.

O julgamento sobre o que é belo e legal, também depende de um social para ser desenvolvido.Por isso, consideramos que em cada época, cultura e comunidade ensina aos seus membros padrões impostos de beleza em relação ao seu corpo, suas vestimentas e modos de vida.

Podemos perceber, desta forma, que existem pessoas que vão se sentir belas (autoimagem), mas terão dificuldade de validar seu valor existencial (autoestima). Essas pessoas, por exemplo,sofrem um impacto importante no processo de envelhecimento, por exemplo, quando julgam não estar dentro de um padrão ou se julgam feias. Em contrapartida, quando uma pessoa tem uma boa autoestima, ela tende a ser mais gentil com a sua autoimagem.

Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues CRP 16/2307 Título de pós doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo

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