A primeira questão que eu quero que você, pai ou mãe, que está lendo este texto, reflita é: seu comportamento de ficar repetindo mil vezes o que seu filho tem que fazer e ficar mandando ele fazer está sendo efetivo para mudar o comportamento dele?
A resposta desta pergunta é: Não.
Parece uma resposta um pouco curta e grossa, mas é só voltar no título do texto que percebemos que a frequência do comportamento dele de fazer o que se pede não está aumentando… já a sua de falar… aumenta a passos largos. Mas diante dessa resposta, muitos questionamentos podem estar passando na sua cabeça:
A) “…se já é difícil ele fazer assim, imagine se eu não falar…”
B) “Se eu não falar, a disciplina vai desandar…”
C) “Eu estou disciplinando meu filho, preciso falar” …
Esses são valores e aprendizados que você tem sobre a educação do seu filho e talvez reflita como foi a sua educação. Quando você fala, sente que está cumprindo sua obrigação de cuidador e se seu filho não obedece, ele é desobediente.
Mas vamos lá, você deve estar se sentindo frustrado e cansado com a tarefa educativa. Afinal, você deve estar se sentindo sacrificado pelo seu filho e totalmente sem valorização dos seus esforços por parte dele. É isso? E se eu te contar que o efeito dessa repetição de ordens sobre ela(a) é bem parecido com o sentimento de frustração e cansaço que você está sentindo? Dá pra acreditar? Ao invés dos filhos sentirem que estão sendo cuidados e disciplinados, eles sentem que os pais são “repetidores de regras” e “fiscalizadores da ordem”. Sentem que os pais não confiam neles e que, por isso, precisam fiscalizar, caso contrário, algo sairá errado.
A repetição incessante das ordens cria uma saturação de informações e a outra pessoa deixa de ouvir a instrução como algo que deva ser cumprido. De outra forma, passa a ser uma ladainha sem consequência. Esse é o tipo de supervisão parental nomeada de supervisão estressante.
“A supervisão estressante se caracteriza pela exagerada vigilância ou fiscalização dos pais em relação aos filhos e pela alta frequência de instruções repetitivas (…)” (Gomide, 2009).
Mas então o que posso fazer ao invés de falar? O melhor que temos a fazer e manejar as consequências do comportamento da criança/adolescente, mas o que seria isso?
Consequência do comportamento é tudo aquilo que acontece após a ação ser realizada. Por exemplo, após eu comer a sobremesa maravilhosa, eu sinto o sabor inigualável na boca ou após eu estudar, eu sei toda a matéria. Quando conseguimos saber quais são as consequências que as ações dos indivíduos produzem em seu meio, podemos criar condições favoráveis para que os comportamentos desejados se repitam e que os indesejados passem a ocorrer em menor frequência. Isso porquê se a consequência está sendo agradável para o indivíduo ou fazendo com que ele se esquive de algo que o incomode, maior é a probabilidade dele continuar realizando o comportamento.
Didaticamente podemos classificar as consequências em naturais e arbitrárias. Nos dois exemplos acima eu comia a sobremesa e estudava e tinha consequências naturais para os meus comportamentos quais foram ficar com o gosto maravilhoso da sobremesa na boca e saber toda a matéria. Conceitualmente, referimo-nos aos reforçadores naturais, consequências que não precisam ser programadas para que sucedam os comportamentos, elas acontecem intrinsicamente ao comportamento. Você poderia me perguntar por que eu não falei que a consequência natural de estudar seria
tirar nota 10 na prova. Pelo simples fato de que tirar 10 na prova não ser uma consequência natural do
comportamento de estudar, ao contrário, essa é tida como uma consequência arbitrária. Por definição, são consequências artificialmente programadas por pais, professores, terapeutas, para que sejam produzidas pelas respostas que desejamos que ocorram. É quando dizemos a um estudante: “Se você passar de
ano, vai ganhar aquele presente de Natal que está querendo”, ou a um funcionário: “Se você cumprir as metas do mês no trabalho, terá o reajuste salarial que pediu ao chefe.”
Quanto mais eu me comporto pela consequência natural do meu comportamento, mais prazeroso é realizar aquela tarefa para mim. De outra forma, se em meu ambiente há um excessivo uso de consequências arbitrárias, eu acabo tendendo a fazer algo só quando eu preciso daquela consequência (exemplo: só me engajo em estudar muito quando preciso do 10, de outra forma, o 7 me basta) e ao longo do tempo, mudando meus interesses, as consequências precisarão ser sempre remanejadas para que elas continuem agindo sobre o meu comportamento.
Por isso, quando trabalhamos com consequências arbitrárias, é sempre importante que elas apareçam junto de consequências naturais e com o tempo, vamos tirando as consequências arbitrárias e deixando que as consequências naturais se sobressaiam.
Agora é com você, pense nos comportamentos do seu filho que mais te tiram do sério atualmente e busque na sua memória a consequência que eles estão produzindo no contexto dele e se é uma consequência do tipo natural ou arbitrária.
Referência:
Gomide, P.I.C. Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. Ed. Vozes. Petrópolis, RJ, 2009.
Escrito por Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues
CRP 16/2307
Este texto corresponde ao sétimo texto da cartilha do programa de orientação de pais desenvolvida pela Ampliare.