No mundo dinâmico da era digital, as redes sociais, telas, tecnologia, etc. se tornaram artigos intrínsecos da vida moderna, tecendo novas formas de conexão, comunicação e compartilhamento de informações. Ao longo de mais de uma década, essa transformação social gerou um interesse crescente na comunidade científica.
Embora as mídias sociais apresentem um potencial imenso para conectar pessoas, facilitar o acesso à informação e fomentar o engajamento em comunidades online, pesquisas indicam resultados mistos sobre seus impactos no bem-estar psicológico. Essa relação complexa e multifacetada tem sido objeto de debate e investigação, com estudos explorando diversos aspectos.
É fato, que a maioria dos estudos sugerem uma associação entre o uso excessivo de telas e o aumento dos sintomas de ansiedade e depressão, ou seja, numa perda de bem estar geral. Mas quando esse uso é moderado, os resultados acabam sendo mais inconclusivos.
Uma pesquisa recente (2024) publicada na revista Computers in Human Behavior, investigou a relação entre o tempo de tela e a qualidade de vida relacionada à saúde de crianças do ensino fundamental em Hong Kong. Os autores conduziram um estudo longitudinal de um ano, em duas ondas, para investigar a associação entre a exposição a diferentes tipos de tempo de tela e a qualidade de vida. Um amostra representativa da população (N = 1428) participou do estudo. Resultados mostraram que a duração do tempo de tela das crianças estava significativamente associada a uma pior qualidade de vida. No entanto, interações do conteúdo e contexto do tempo de tela, incluindo assistir TV e jogar vídeo game com os pais, jogar vídeo game sozinho e usar mídias sociais sozinho estavam significativamente associadas a uma melhor qualidade de vida.
Mais uma vez vamos bater naquela tecla que nada na vida é só bom ou só ruim, as coisas terão aspectos positivos e negativos, dependendo de como vamos usá-las. É importante usar as redes sociais de forma consciente e responsável e se você sentir que as redes sociais estão impactando negativamente seu bem-estar mental ou o bem-estar mental de alguém da sua família, procure ajuda de um profissional qualificado.
Se você é pai ou mãe e chegou até aqui preocupado com o impacto das redes sociais, videogame, telas, na vida dos seus filhos, é importante que faça uma reflexão sobre o modelo de uso que você dá a eles. Quanto e como você usa tecnologia na sua casa? Inclusive, você mesmo segue as regras da casa sobre o uso da tecnologia? Coisas básicas, não usar após tal hora, não usar nas refeições e coisas assim?
Além disso, quero levantar uma outra questão difícil de engolir, mas vejo muitos pais maravilhados com a suposta inteligência do filho ao saber manusear a tecnologia. Primeiro vamos ser claros, as tecnologias de hoje em dia são completamente intuitivas, seu filho não é um gênio porque sabe mexer em um smartphone ou no controle da tv. Segundo que saber mexer não é saber usar com consciência, então muito cuidado com isso.
Lembre-se que o comportamento de usar a tecnologia, também é um comportamento aprendido assim como aquele de atravessar a rua. Se no início você pega na mão do seu filho e ensina para onde ele tem que olhar, explica o que acontece se estiver vindo carro, e aos poucos vai percebendo que ele vai ganhando autonomia e você pode ir soltando a mão dele, na vida da tecnologia deve ser mais ou menos da mesma forma. Desde o início, precisamos acompanhar de perto nossas crianças no uso da tecnologia, usar o tempo recomendado, orientar sobre o uso da tecnologia, estabelecer os limites, para que um dia ele tenha autonomia de usá-la de forma não mediada e com moderação.
Já atendi pais muito permissivos em relação ao uso da tecnologia, enquanto outros completamente fora da realidade convictos de que seus filhos adolescentes tinham que ser abstinentes de tecnologia. Sou da linha da moderação, nem 8 e nem 80, precisamos focar no uso que é funcional. Costumo discutir nestes casos que faz mais sentido focar no desenvolvimento de uma relação saudável do que focar em proibições.
Quantas e quantas vezes a gente não vê os pais atribuindo ao videogame dificuldades de relacionamentos familiares que não são do jogo e sim deles. Sei que é duro falar isso, mas experimente fortalecer outros elementos na relação com seu filho e perceba como o jogo vai perdendo o valor… talvez não de forma abstinente, mas de forma menos frequente, mais equilibrada.
Por fim, dicas “receita de bolo”
- Estabeleça limites de tempo de tela: Defina horários específicos para o uso de telas e incentive outras atividades, como brincadeiras ao ar livre, leitura e contato com a natureza.
- Escolha conteúdos de qualidade: Priorize conteúdos educativos, divertidos e apropriados para a idade da criança ou adolescente.
- Monitore o que seus filhos assistem: Converse com eles sobre o que estão vendo online e oriente-os sobre como lidar com conteúdos inadequados.
- Seja um exemplo positivo: Limite o seu próprio tempo de tela e demonstre como usar a tecnologia de forma responsável e saudável.
- Crie um ambiente familiar favorável: Incentive a comunicação aberta e o diálogo sobre o uso de telas, promovendo um relacionamento de confiança entre pais e filhos.
Referências:
Camilla Kin Ming Lo, Ko Ling Chan, Edward Wai Wa Chan, Frederick K. Ho, Patrick Ip, (2024). Differential associations between Quantity, content, and context of screen time, and Children’s health-related quality of life: A two-wave study. Computers in Human Behavior, Volume 158, 2024. https://doi.org/10.1016/j.chb.2024.108284
Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues
CRP 16/2307
Título de pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.