No mundo atual, onde as tentações estão a um clique de distância, o autocontrole se torna uma habilidade cada vez mais importante. Para completar essa importância, nunca foi tão comum as pessoas se sentirem perdendo o controle.
A ciência básica nos oferece algumas pistas interessantes sobre como manejar nosso autocontrole, e podemos aprender coisas interessantes com os pombos. Em um estudo clássico de 1972, Rachlin e Green investigaram o comportamento de pombos diante de duas opções:
Alternativa da impulsividade: receber uma pequena quantidade de comida imediatamente ao bicar uma chave.
Alternativa de autocontrole: esperar um tempo para receber uma quantidade maior de comida ao bicar outra chave.
Inicialmente, os pombos tendiam a escolher a alternativa da impulsividade. No entanto, quando os pesquisadores introduziram mais um encadeamento nesta cadeia comportamenta, então em um alternativa os pombos bicavam e abriam a opção da impulsividade ou do autocontrole, na outra alternativa a única escolha disponível era a alternativa do autocontrole – os pombos surpreendentemente pararam de escolher a alternativa que continha a impulsividade e passaram a optar pela espera pela recompensa maior. Esse comportamento foi chamado de resposta de compromisso. A partir desta escolha, os pombos, eliminavam a recompensa imediata e adiavam a gratificação, escolhendo a opção mais vantajosa a longo prazo.
O que isso significa para nós humanos?
Para ter mais autocontrole, podemos:
- Identificar as situações que nos levam à impulsividade: quais são os gatilhos que nos fazem tomar decisões precipitadas?
- Eliminar as tentações do nosso ambiente: se sabemos que não resistimos diante de doces, por que mantê-los em casa?
- Criar um ambiente que facilite o autocontrole: deixar a roupa de academia preparada na noite anterior pode aumentar as chances de ir à academia no dia seguinte.
Lembre-se: o autocontrole não se trata de ter um “eu forte” que resiste a tudo. Trata-se de manejar o ambiente para reduzir as tentações e facilitar a tomada de decisões saudáveis. O desenvolvimento do autocontrole leva tempo e prática. Não desanime se tiver contratempos, “resgate os baldes” e retorne ao foco.
Referência:
Rachlin, H., & Green, L. (1972). Choice as a function of delay and magnitude of reward. Psychonomic Science, 25(2), 141-145.
Escrito por:
Anna Beatriz Carnielli Howat Rodrigues
CRP 16/2307
Título de pós-doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,Doutora em Psicologia Experimental e Especialista em Psicologia Comportamental Cognitiva pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo.